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tenho nenhuma vocação para a política”
Cercada de dúvidas por causa da campanha irregular nas Eliminatórias – a vaga na Copa só foi confirmada na última rodada, contra a Venezuela –, a seleção viajou para a Ásia sob a desconfiança em torno de Ronaldo. Ele havia sido o personagem principal na intragável queda diante da França em 1998 e se recuperava de uma grave lesão no joelho. Como havia jogado poucas partidas na temporada, sua real condição física era uma incógnita até mesmo para a comissão técnica, que, ainda assim, decidiu apostar no Fenômeno. Ao lado de nomes menos badalados, mas não menos emblemáticos na conquista do pentacampeonato, como Luizão, Denílson e Vampeta, ele liderou a seleção em uma Copa que rendeu lances memoráveis até mesmo depois do apito final em Yokohama.
Malandragem à brasileira
Uma estreia tensa. O Brasil começou perdendo para a Turquia, empatou com Ronaldo e, aos 40 minutos do segundo tempo, Luizão foi derrubado próximo à meia-lua. O atacante mergulhou dentro da área. De longe, o árbitro coreano caiu na dele e marcou pênalti, convertido por Rivaldo, que ainda protagonizaria uma simulação grotesca. O defensor turco chutou a bola em seu joelho – Rivaldo caiu sentindo o rosto – e acabou expulso. A vitória suada por 2 a 1 abriu caminho para o Penta.
Jogos de madrugada
O primeiro jogo da seleção no Mundial foi às 6h da manhã. Na competição, o Brasil ainda jogaria às 8h30, 8h e 3h30, como no duelo contra a Inglaterra. A diferença de 12 horas para os países asiáticos obrigou os brasileiros a madrugar para assistir aos jogos. Havia quem virasse a noite e quem trocasse o churrasco tradicional em jogos de Copa pelo café da manhã. O fuso horário foi especialmente ingrato com profissionais de imprensa que tiveram de cobrir os jogos no Brasil, como o comentarista Sérgio Noronha, que acabou cochilando em uma das aparições ao vivo na Globo.
Samba para inglês ver
Nas quartas de final, o Brasil enfrentou a Inglaterra em um jogo de nervos à flor da pele. Lúcio falhou na defesa e deixou Michael Owen livre para abrir o placar a favor dos ingleses. Ronaldinho Gaúcho, até então discreto na Copa, resolveu dar o ar da graça. Primeiro, entortou Ashley Cole e rolou para Rivaldo empatar. Já no segundo tempo, surpreendeu Seaman com uma cobrança de falta despretensiosa que foi parar no ângulo direito do goleiro. Evocou a famosa sambadinha na comemoração, mas levou cartão vermelho sete minutos depois. A seleção resistiu bravamente com um jogador a menos no segundo tempo e garantiu a passagem à semi.
Perseguição dos turcos
A Turquia estava engasgada com o Brasil desde a derrota com interferência do apito. Em mais um embate truncado, a seleção contou com a estrela e o biquinho de Ronaldo, que decretou a vitória por 1 a 0. Porém, foi a arrancada de Denílson, perseguido por nada menos que quatro marcadores turcos na lateral do campo, para delírio de Galvão Bueno, que marcou aquela semifinal. Com seus dribles, a equipe de Felipão ganhou minutos preciosos para segurar o resultado.
Ronaldo e Rivaldo derrubam o mito alemão
Considerado o melhor goleiro do mundo, Oliver Kahn havia sofrido apenas um gol até a final e vinha roubando a cena na Copa do Mundo. Mas, diante do Brasil, ele não foi páreo para a artilharia pesada comandada por Rivaldo e Ronaldo, que marcou os dois gols do título em 30 de junho de 2002. Embora o camisa 9 brasileiro tivesse vencido o duelo pessoal e garantido a artilharia da Copa, com oito gols, Kahn foi eleito o melhor jogador do torneio pela FIFA. Brasil e Alemanha voltariam a se encontrar em um Mundial 12 anos depois. Dessa vez, porém, a família Scolari não teve a mesma sorte…
Cambalhota do Vampeta e pegadinha fenomenal
Assim como em 1994, a delegação canarinha foi recebida com honrarias oficiais em Brasília. Na longa viagem de volta do Japão, os jogadores aproveitaram para curtir um pagode e apreciar merecidos goles de cerveja após a conquista do Penta. Vampeta era um dos mais empolgados. Prometeu aos companheiros que daria cambalhotas na rampa do Planalto. “Foi uma brincadeira. Eu estava bêbado”, conta o ex-volante, orgulhoso do feito. Sob olhares incrédulos do então presidente Fernando Henrique Cardoso, ele rolou pelo cimento palaciano vestindo uma camisa do Corinthians. Ronaldo também pregaria uma peça em FHC. Fingiu ter sido espetado na hora em que o presidente lhe entregava a medalha de honra ao mérito – Vampeta perdeu a sua durante uma das cambalhotas.